Filosofia de vida!

Ao procurar algumas palavras que reflectissem a minha contemplativa inquietação de hoje, encontrei alguns belos verbos deixados por Florbela Espanca.

Lembrado da exposição sobre a sua vida e obra que, há uns meses, num passeio familiar de fim de semana, patenteei no Mosteiro da Batalha, espero que, de ambas as contemplações (mais da dela), possam retirar algum proveito, principalmente para todos que sentem a alma revolta em busca de uma incomensurável perfeição, procurando mais sentindo para a vida terrena.

Evoco, principalmente, com especial carinho e sentida saudade, a memória de minha irmã: Maria Fernanda, que também veio a falecer com 37 anos.

Com jeito humilde e risonho, mesmo quando Deus lhe murmurou o triste desenredo, diante de tão excelsa e luzidia entrada, perante o florido campo que lhe dava acesso à divina habitação…  estalavam foguetes multicores na festa de ano novo, de há oito anos atrás, renovava-se a esperança, começava o dia de Santa Maria, comemorava-se a paz..., Deus lhe dê um eterno descanso em sua companhia... 

A minha árida meditação:
O ser humano é atirado para a arena da sobrevivência, em cada microcosmos de terra, traído pelo ínfimo da consciência, moldado pelos olhares e costumes da sociedade que o rodeia, endeusando a aparência, afeiçoando-se à rotina, esculpindo ambição no seu mister e saber…

Os anos vão descorando a imaginação, os hábitos vão manietando a liberdade, somos espremidos até ao âmago num exercício de repetição, na fobia dos poucos minutos de luz que resistem ao cerco da noite…
Chegamos ao tempo de reforma ou invalidez, de semblante carrancudo por não termos expandido o olhar, os músculos da face enrugados por falta de riso, cabisbaixos, espreitando o vazio que é reflectido pela solidão ou falta de ocupação, experimentamos uma nova vida de adaptação à ingrata civilização…

Tudo isto abre portas para a enfermidade, consequência da contínua autoflagelação, seguimos o caminho das clínicas, que se multiplicam, apinhadas de gente nas filas de espera… As lojas de bairro dão lugar a Pastelarias ou Esteticistas, quais consultórios de reconstrução de auto-estima, as farmácias são um destino inevitável, com a complacência médica, onde exturquem a pensão, exploram um apetecível filão de uma mina…

O dinheiro gera movimento, é o motor da evolução, os bens terrenos moralizam as adulteradas comunidades, é neste círculo vicioso de desmesurada e incontrolada aspiração que nos vamos amargurando e consumindo, a parte da humanidade sã vai velando por um crescente e doentio aglomerado…

Como forma de suavizar o padrasto destino, devemos investir nas actividades lúdicas, recreio, desportivas, arte, letras e cultura, principalmente transportar a religião para o quotidiano, aprofundar a nossa fé, refúgio de efémeras contrariedades, motivo para exaltação do espírito. Só Cristo nos transmite a tranquilidade dos sonhos e revigora o pensamento, só a partilha e o amor nos regenera a alma, só a alegria do íntimo do coração nos dá brilho ao olhar…

1894: A 8 de Dezembro, nasce Florbela Espanca em Vila Viçosa.
1915: Casa com Alberto Moutinho. - 1919: Entra na Faculdade de Direito, Lisboa. e publica a primeira obra, Livro de Mágoas. - 1923: Publica o Livro de Soror Saudade. - 1927: 6 de Junho, morre Apeles, seu irmão, causando-lhe desgosto profundo. - 1930: com 36 anos, dia 8/12, em Matosinhos, Florbela põe fim à vida. - 1931: Edição póstuma de Charneca em Flor, Reliquiae e Juvenilia e ainda colectâneas de contos Dominó Negro e Máscara do Destino.


A sublime e eloquente poesia de Florbela Espanca:

Tudo é tranquilo e casto e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste Mundo?


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços..

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