O querido mês de agosto... na aldeia!
A madrugada ainda tecia o encanto dum novo amanhecer, quando
partimos da cidade, pelas longas avenidas, levando a rotina para os braços da ociosidade...
O luzidio que emergia no estuário, acariciou os arcos férreos
da vila franca, rasando as lezírias do ribatejo, voando pelos aires até ao monte das oliveiras, iluminando a Senhora dos céus…
Desviamos pelo interior ao encontro dos pinhais das beiras e dos verdejantes socalcos de Arganil. Subimos então aos confins,
serpenteámos colinas, admirando a lonjura do horizonte e deslizámos até às
profundezas do Açor, onde uma pequena aldeia se escondia perto
duma ribeira...
Enquanto o sol não esmaecia íamos gelar nas águas fluviais ou procurávamos as sombras dos castanheiros… Os aldeões sufragavam o
pranto nas idas à capela, depois da labuta lhes
desbravar o aprumo, enquanto nós ansiávamos consolação para o queixume...
No picos da alta cordilheira as ventoinhas rodopiavam num
carrossel majestoso ao sabor do vento, o poente fugia pelas acentuadas fragas, realçando a água a soluçar sobre as pedras, um fresco de pureza que invadia
os assentos da varanda…
Vieram os dias festivos, amontoou-se a multidão, alvoradas
radiosas para promover a alegria. Foi a correria até ao adro da capela, depois do suplício
da ladeira. Foi o cortejo típico das adegas debaixo dos alpendres, qual
brinde à amizade e tradição. Foi o almoço de convívio, regado com o fruto da
videira aonde não faltou o pão...
Foi a procissão, debruada no firmamento, suplicando à Senhora zelosa pela nossa reconciliação. Foi o banquete do forno de
lenha, manjar de família servido com o licor dos deuses. Foi o arraial sob os
auspícios do luar que acentuou a folia
no silêncio da madrugada…
Foi ainda o piquenique ao pé do moinho da ribeira, patrocinado por autenticidade e boa disposição.
Mais tarde, ao tinir das horas e dos chocalhos, fomos
pelas vias panorâmicas esculpidas nos declives, até aos recantos aquíferos envoltos
na frescura e mansidão, caminhamos pelos estreitos caminhos de acesso às quelhadas ou, à boleia da luzinha matinal, descemos dos penedos altos pelos escarpados socalcos
até ao ancestral povoado.
Finalmente, já com alma de aldeão, colocámos a coroa no
casario e regressamos ao reino da cidade, contando que para Deus nada seja em
vão!
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