Sossega, coração! Não desesperes!
Andamos pelas ruas confluentes da cidade como se caminhássemos por lugarejos tranquilos do interior do país, percorremos o vazio das ruas, num
silêncio hostil ao contentamento, de corpo esmorecido ao padecimento, afastado da gente que se atravessa no horizonte.
Em tempo algum fomos tão adeptos das redes sociais, demos
tanto uso às conexões virtuais, viajámos pelo ciberespaço, atrás da comunicação
e entretenimento ou tivemos o ensejo de permanecer no lar, tão absortos de ócio mas libertos
para o lazer e inspiração!
É certo que rezamos pela legião da saúde que defronta a terrível maleita e todas as acostumadas enfermidades, por todos os trabalhadores que continuam a sacrificar-se pelo fornecimento dos bens essenciais, prestadores de cuidados e afetos, que tudo fazem pela sustentação duma rotina e moralização da sociedade…
É certo que rezamos pela legião da saúde que defronta a terrível maleita e todas as acostumadas enfermidades, por todos os trabalhadores que continuam a sacrificar-se pelo fornecimento dos bens essenciais, prestadores de cuidados e afetos, que tudo fazem pela sustentação duma rotina e moralização da sociedade…
Mas o planeta agradece esta pausa, para simplesmente seguir
os trâmites da rotatividade cósmica, para que a natureza floresça no hemisfério
mais a norte, na lentidão propícia à biodiversidade e exuberância dos ambientes
naturais!
O homem também ficará grato por esta trégua na agitação cerebral,
na azáfama desenfreada pelo consumo e oferta cultural. Pelo tempo que se
proporciona à fraternidade, na carência da espiritualidade em detrimento do fútil
e em ordem à reformulação do pensamento e das prioridades…
Deixo um poema do grande Fernando Pessoa, vida que comecei agora a desvendar em livro, longe ainda da compreensão do seu profundo pensar que nos legou para ajudar a lidar com o mundo!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa
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