Viajando pelas cores do Outono!
Este tempo de Outono, que se vai robustecendo nas aragens frescas dos sensaborões entardeceres, nos ventos revoltos que torneiam a montanha, também se compraz, nos ociosos momentos, com tonalidades de sol e alegria, pintando de encanto as paisagens bucólicas e ancestrais!
Assim
foi no prolongado fim de semana republicano, um misto de névoas e felicidade
viajaram connosco pelas vias largas do sonho até ao altar interior de mansidão.
Depois fomos ainda mais adentro na intimidade, no encalce de cenários
campestres, rendidos ao destino e à beleza dos outeiros do Açor.
Por
estes dias de Outono, no lento aconchego que vai iluminando o caminho, comecei
a ler outro livro, relato duma história de vida que remonta quase há 500 anos
atrás, qual personagem ímpar pelos feitos alcançados na cultura lusitana.
A infância, passada na época das descobertas marítimas inspirou-o a ser um profundo conhecedor de história, geografia e literatura. Em 1537, quando D. João III transferiu a Universidade para Coimbra, Camões iniciou o curso de Teologia, mas a vida desordeira e fama de conquistador, depressa revelaram a sua pouca vocação para a Igreja.
Em 1544, com 20 anos, deixou as aulas de teologia e ingressou no curso de filosofia, altura em que encontrou D. Catarina de Ataíde, dama da rainha D. Catarina da Áustria, esposa de D. João III, por quem haveria de ter uma ardente paixão, mais tarde imortalizada pelo poeta.
Em Liberdade, em 1554, Camões embarca para as Índias. Esteve em Goa, e toma parte de várias outras expedições militares. Foi nomeado provedor em Macau e na China, onde escreveu mais 6 cantos de seu poema épico.
Em 1569, Camões volta a Portugal onde chega em 7 de abril de 1570, passados 16 anos.
Luís de Camões morreu em Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza.
Destaca-se o canto III que relata o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro, seu amante:
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e digno da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa a molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas
Camões foi pois um poeta erudito e popular, inspirado certamente por muitas mulheres que se cruzaram na sua vida, ora influenciado por canções ou trovas populares, ora escrevendo poemas mais líricos, versos bucólicos, comédias e sonetos de amor, como este:
Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não disesse
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,
Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.
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